segunda-feira, junho 05, 2006

Sobretudo Marco Leandro ....




Acho que um blog e este em especial que é só para nós, é um sítio que para além de escrevermos informação útil para o objectivo a que nos proposemos, serve também para cá pormos o que nos vai na alma e no coração. E Vocês que me conhecem sabem que eu sou um bocado lamechas e fadista.

Não posso por isso deixar que o primeiro escrito que aqui faço meu, pessoal, seja para o Marco Leandro, que como julgo todos sabem já não está entre nós. Como a Catarina Prazeres muito bem disse "Escolheu deixar-nos".

Sobre o que ele pensava e o que foi a vida do Marco sigam um link no fim deste meu escrito que se chama Texto do Marco e que é um texto feito por ele na preparação para a entrevista que deu ao Páginas Soltas da Bárbara Guimarães no ano passado.

Sobre o que eu penso é que é mais complicado.

Como alguns sabem o Marco ao fim de 9 anos de carreira hoteleira separou-se, da carreira, da mulher, mas não da familia e amigos e foi tirar Belas Artes.

A minha vida também foi, como a de todos nós, mais ou menos complicada. Percorri Portugal de Lés a Lés. Depois de acabar o curso andei por Lisboa, Porto, Cascais, Baixo Alentejo, Algarve, Ribatejo, Alto Alentejo e por isso não via o Marco com a frequência que gostava. Mesmo assim ainda o via com alguma frequência e ultimamente tinha-lhe telefonado uma série de vezes e escrito uma série de Mails porque o Marco foi das primeiras pessoas a ser escolhida pela Comissão Instaladora para a Comissão Organizadora.

(Aqui um grande parentesis para explicar como isto da comemoração dos 20 anos de curso surgiu - Eu sei que o Marco não se importa que por um bocado eu não pense só nele - .

Durante a BTL e talvez mesmo antes [um parentesis dentro do parentesis - Como alguns de vocês já sabem eu larguei recentemente a direcção hoteleira por um projecto de representação de amenities e isso tem-me permitido estar com muitos colegas disfrutando tempo de qualidade com eles. Permitiu-me ainda ter uma vida mais normal, já não preciso de trabalhar 365 dias por ano, 24 horas por dia. E fecho o parentesis dentro do Parentesis].

Continuo com o outro parentesis... Como dizia eu, durante a BTL e talvez mesmo antes acho que com a Ana Parente ou com a Catarina Prazeres ou com a Melga ou doutra maneira qualquer, alguém disse que faziamos 20 anos de inicio de curso (não é bem o meu caso mas essa estória vocês conhecem, eu já comecei à 21) e que seria engraçado fazermos alguma coisa. Assim se começou a falar.

Como eu neste momento tenho um bocado mais de disponibilidade de tempo e mental, começou-me uma parte do cerebro a fazer comichão e decidimos a Ana a Catarina e eu criar a Comissão Instaladora para a Comissão Organizadora dos 20 Anos de Curso etc, etc, ... E assim se nomearam os restantes membros da Comissão Organizadora. Não foi por acaso mas foi quase. O Marco foi o 1º nome a surgir como sendo um dos elementos que restavam nomear.

Depois aconteceu o que aconteceu e optamos por não chamar mais ninguém. Ainda falamos com uma ou duas pessoas que encontramos por acaso para que se quisessem aparecessem mas não apareceram. Paciência.

E acho que já posso fechar o parentesis que, como previ foi longo, e voltar ao nosso Marcolino)

Dizia eu lá em cima que ao Marco o tinha ultimamente tentado contactar várias vezes para lhe dizer da nomeação para a comissão organizadora e antes disso também, por exemplo, para lhe dar os parabéns. Ele fazia anos a 26 de Março e como eu faço a 25 nunca esqueciamos de nos telefonar mutuamente. Sei agora que não me telefonou nem atendeu o meu telefonema porque estava na India. E que os mails só os abria quando ia a casa da actual namorada, a Mónica.

No dia 25 de Abril estava eu em cá em minha casa com o João Paulo Carapinha meu grande amigo da EHTP do meu primeiro ano e hoje em dia o meu maior amigo e padrinho da minha filha mais nova, quando telefona a Sofia Tropa (ex mulher do Marco) a dizer que ele se tinha matado.

(O João Paulo e o Marco eram também hiper amigos. Depois de acabarem o curso partilharam a mesma casa em Lisboa durante uns anos.)

Confesso que reagi como se nada fosse. O J.P. ficou pior que eu. Mas a mim não bateu logo.

Acho que não bateu logo porque há uns anos atrás, muitos, quase logo a seguir ao curso, o Marco já tinha tentado uma vez escolhido suicidar-se. Nessa altura (eu acho que estava no desemprego) fui passar 8 dias com ele a casa dele e com a ajuda da familia a coisa passou. Ele arrependeu-se equilibrou-se e a vida continuou. Isto foi inclusivamente antes de conhecer a Sofia Tropa com quem depois casou. Foi mesmo há muito tempo. Depois conheceu a Sofia, casou, trabalhou em hotelaria e para terem uma ideia foi director de F&B do Continental, foi sub director da Escola Hoteleira de Lisboa. E um dia aquilo que desde o curso ele devia ter feito, e como nós sempre lhe haviamos dito para fazer percebeu que só poderia ser feliz se fosse para Belas Artes. A Sofia, compreensivelmente, não aceitou a instabilidade que isso iria trazer ao casamento deles e separaram-se. O Marco foi para Belas Artes e começamos a ver-nos menos, mas sempre nos iamos vendo. Nada faria prever o se passou. Ou se calhar faria e daí a minha reacção. Eu já tinha passado por isso e acho que foi por isso que não bateu logo.

No dia 25 jantei normalmente e dormi como um anjo.

No dia seguinte fui para as minhas visitas aos hoteis e ás 16h00 fui para o Sobral de Monte Agraço onde estava o Marco. No caminho comecei a revoltar-me com ele porque percebi que não o ia ver mais e porque ele não tinha o direito de me fazer isso. E chamei-lhe todos os nomes do mundo.

Mesmo quando cheguei ao Sobral e estive com a familia dele (de quem depois daquela 1ª tentativa de suicidio fiquei muito amigo) só fui capaz de lhe chamar palavrões que nem aqui me atrevo a repetir.

Nesse dia todos nos perguntávamos porquê? A certa altura em conversa com a Marta irmã do Marco ela contou-me que à cerca de 2 anos, quando o Marco estava a fazer o Erasmos em Inglaterra, ela teve que o ir lá buscar porque num telefonema à mãe ela percebeu que ele não estava nada bem da cabeça (estava com a mania que um Big Brother qualquer o perseguia). Comecei a perceber que o Marco não estava bem, que estava doente.

Nesse dia já dormi pior. No dia seguinte foi o enterro. Quis ser cremado sem missa. Foi rápido. Nesse dia prometi a mim mesmo dar à familia a cópia da entrevista com a Barbara Guimarães que só um dos irmãos tinha visto. Saí do enterro e fui à SIC e lá soube o que tinha que fazer para ter o video. Depois como já tinha o resto do dia perdido fui ao Casino Estoril onde ele ainda tinha quadros expostos para uma colectiva. E lá fui e lá vi os quadros e quis comprar um deles que já não mo venderam porque a decisão a partir dali era da familia. E fizeram bem.

E aí é que me bateu.

Meti-me no carro e vim para casa (a minha casa acho que ainda não vos disse é no Cartaxo) e chorei o caminho todo. Continuei a chamar-lhe muitos palavrões mas chorei de saudade e culpa.

Percebi que nunca mais o ia ver e achei/acho que podia ter feito mais. Porque é que não insisti mais quando ele não me respondeu aos telefonemas e mails, porque é que quando falávamos ao telefone no ultimo ano ele me dizia "vem cá a Santa Rita " eu lhe dizia que sim mas nunca fui. Merda ....

Nessa noite sonhei com ele. Mas foi um sonho bom. Era que por algúm motivo ele tinha ressuscitado e que depois do assunto tratado ia-se matar outra vez, entretanto nós, familia e amigos iamos tentando demovê-lo até que por fim conseguiamos. Depois acordei. Estranho mas contente porque tinha estado com o meu amigo.

Passados uns dias fui à SIC buscar o DVD com a entrevista do Marco. Passados mais uns dias, depois de feitas as cópias, deixei 4 com a Mónica (para ela e para distribuir aos irmãos do Marco) e peguei num e fui ao Sobral deixar aos pais. O Pai não estava mas estive 3 horas ou mais à conversa com a mãe do Marco. Pessoa maravilhosa. Ainda a sofrer muito e como ela dizia "até ao fim da vida", mas a lutar e andar para a frente. Ela é que me fez perceber que o Marco, o nosso grande amigo estava doente, muito doente da cabeça e que mesmo que desta vez nós, os amigos e os pais, tivessemos conseguido que ele não fizesse o que fez, outra vez haveria que se de facto quizesse ele o faria.

Não me resolveu tudo mas ajuda.

E para ti querido Marco como já te disse mil vezes, no dia em que nos voltarmos a encontrar 1º dou-te o maior murro que conseguir, a seguir beijo-te mil vezes pelo que me fizeste passar de saudade e culpa. Depois sentamo-nos a ver o Mar de Santa Rita (que daí de cima deve ter uma vista espectacular) e falamos até termos tudo falado. Desta vez não vou ser preguiçoso. Desculpa-me.





Para acabar Vocês sabiam que o Marco acabou belas artes com 18 valores, que no ano passado vendeu 40 quadros e que era considerado das maiores promessas da pintura nacional.


Beijos a todos e desculpem qualquer coisinha mas quando comecei a escrever não sabia o que ia sair e saiu assim. Se calhar estava a precisar. Beijinhos

Tomico

O Texto do Marco

3 comentários:

Anónimo disse...

Se for verdade isso do céu e do inferno, de certeza que ele está no céu e feliz. E eu fico feliz por isso!

Anónimo disse...

Tomico,
é a primeira vez que leio este texto. Também não conhecia esta fotografia. Andava a pesquisar na internet e descobri o vosso blog. Obrigada. É bom saber que não o esquecem...
Beijinhos para todos do grupo,

Mónica
17/09/2009

Anónimo disse...

Nunca o esqueço.

Penso muito e tantas vezes nele...

Tenho saudades.

Tomico